Atualmente, a Pinacoteca de São Paulo apresenta a exposição “Domingo no Parque”, que oferece um panorama abrangente da produção de Renata Lucas nos últimos 20 anos. A mostra reúne obras emblemáticas e novas criações que dialogam com o espaço da Pina Estação e seu entorno, explorando as interações entre o interior e o exterior do edifício.
História e Trajetória
Renata Lucas nasceu em 1971, em Ribeirão Preto, São Paulo. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), concluiu posteriormente o mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Desde o início de sua carreira, Lucas demonstrou interesse pelo impacto do espaço urbano na vida cotidiana, desenvolvendo uma prática artística que desafia as convenções da arquitetura e do urbanismo.
Em 2001, a artista participou da fundação do espaço independente “10,20 x 3,60”, que funcionava como plataforma para experimentação e discussão de novas abordagens artísticas. Essa iniciativa marcou o início de uma trajetória voltada para o questionamento das estruturas estabelecidas, tanto no campo artístico quanto no urbano. Ao longo dos anos, Renata Lucas consolidou-se como uma das mais importantes artistas brasileiras da contemporaneidade, sendo reconhecida por sua abordagem singular e sua capacidade de transformar espaços através de pequenas, mas radicais, intervenções.
Produção artística e poética

Falha, 2003
O trabalho de Renata Lucas se caracteriza por interferências em espaços arquitetônicos e urbanos, explorando a relação entre o público e o privado, a história dos locais e as dinâmicas de poder embutidas na organização espacial das cidades. Suas instalações e intervenções frequentemente questionam o uso tradicional dos espaços, propondo novas formas de circulação, interação e percepção.
A radicalidade de sua obra está na maneira como ela reconfigura ambientes já existentes, sem destruí-los ou substituí-los. Lucas propõe alterações que revelam os mecanismos subjacentes do poder espacial e urbano, permitindo ao público experimentar realidades alternativas. Sua prática não é apenas visual, mas profundamente política e social, levantando questões sobre propriedade, território e a influência da arquitetura sobre o comportamento humano.
Renata Lucas participou de diversas exposições individuais e coletivas em importantes instituições no Brasil e no exterior. Entre suas principais exposições individuais estão:
- ‘Farsa’ (2019), Performance Space, Nova York
- ‘Fontes e sequestros’ (2015), neugerriemschneider, Berlim
- ‘Museu do Homem Diagonal’ (2014), Rio de Janeiro (Prêmio Absolut Art Award)
- ‘Untitled’ (2014), Secession, Viena
- ‘Cabeça e cauda de cavalo’ (2010), KW Institute for Contemporary Art, Berlim
- ‘Falha’ (2007), Redcat, Los Angeles
Entre as exposições coletivas recentes, destacam-se:
- Bienal de Veneza (2009)
- Documenta 13 (2012), Kassel
- Bienal de Istambul (2011)
- ‘United States of Latin America’ (2015), MOCA, Detroit
- ‘Impulse, Reason, Sense, Conflict’ (2014), CIFO Ella Fontanals-Cisneros, Miami
- Bienal de Urbanismo e Arquitetura de Shenzhen (2017)
Seus trabalhos fazem parte de coleções importantes como o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).
Exposição “Domingo no Parque” na Pinacoteca
A exposição “Domingo no Parque”, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, reafirma a radicalidade do trabalho de Renata Lucas. A mostra se desdobra não apenas nas três salas expositivas do museu, mas também na fachada e na praça em frente ao edifício da Pina Estação, explorando os limites entre interior e exterior.
Na fachada, um grande letreiro exibe a frase “Amanhã não tem feira”, trecho da canção “Domingo no Parque” de Gilberto Gil. A mensagem só pode ser lida completamente a partir da praça, desafiando a percepção do público e integrando o espaço urbano à exposição.
Outra intervenção marcante é o corte de um círculo de 6,4 metros de raio no Largo General Osório, como se fosse possível girar parte da praça no sentido anti-horário. Essa ação remete à roda-gigante mencionada na música de Gil e subverte a noção de estabilidade do espaço urbano.
Dentro da Pinacoteca, a exposição inclui trabalhos como “Cabeça e cauda de cavalo” (2010), em que uma plataforma giratória conecta simbolicamente interior e exterior. O público pode empurrar uma parede do museu e fazer parte do chão girar, revelando uma área gramada, remetendo ao Largo General Osório.
Outra obra notável é “O Perde” (2022), uma mesa de sinuca modificada em que as bolas desaparecem em canos e reaparecem no térreo do museu. Em “[ ]” (2014), painéis expositivos são transformados em dispositivos móveis que, quando manipulados, acionam discos sonoros embutidos no chão, reproduzindo trechos da canção “Domingo no Parque”.
Por fim, o público pode interagir com “Falha” (2003), uma obra em que chapas de compensado cobrem o chão da sala e podem ser dobradas e desdobradas pelos visitantes, transformando temporariamente a configuração do espaço.
Com “Domingo no Parque”, Renata Lucas reafirma seu lugar no cenário da arte contemporânea, proporcionando experiências que desafiam a percepção e a relação do público com o espaço.

Cruzamento [Crossing], 2003

Febre, 2004
Referências
https://pinacoteca.org.br/programacao/exposicoes/renata-lucas-domingo-no-parque/
https://www.luisastrina.com.br/artists/48-renata-lucas/biography/
https://kadist.org/people/renata-lucas/
https://www.agentilcarioca.com.br/artists/44-renata-lucas/