A Semana de Arte Moderna comemora seu centenário neste ano de 2022, o evento foi responsável por provocar questionamentos acerca da produção artística da época, além de fazer um convite à sociedade brasileira pela busca de uma identidade nacional.
O legado da Semana de Arte Moderna é indiscutivelmente o primeiro grande evento artístico e coletivo das artes brasileiras. Mas, quem são os artistas por trás das obras apresentadas na Semana de 22? Quais conexões levaram esses artistas a Semana de 22? Quais motivações eles tinham?
Conheça um pouco da história de 10 artistas que tiveram participação fundamental na Semana de 22.
10 ARTISTAS QUE FIZERAM A SEMANA DE ARTE MODERNA ACONTECER
ANITA MALFATTI
A pintora Anita Malfatti teve papel fundamental na Semana de 22, sua mostra expressionista realizada em São Paulo na Exposição de Pintura Moderna foi um marco para a renovação das artes plásticas no Brasil. A crítica do escritor Monteiro Lobato, sobre a exposição da artista, publicada no jornal O Estado de São Paulo, intitulada “Paranoia ou mistificação?” serviu de estopim para o Movimento Modernista no Brasil.
Anita Malfatti nasceu com uma atrofia no braço direito e teve que aprender a usar a mão esquerda. A artista foi estudar na Alemanha, onde frequentou o ateliê de Fritz Burger e em seguida matriculou-se na Academia Real de Belas Artes em Berlim, onde estudou pintura expressionista, cujo objetivo era expressar o emocional, distorcer formas e usar cores pouco reais.
Em 1915, foi para Nova Iorque, onde estudou na Arts Students League e na Independent School of Art, sob a orientação de Homer Boss, que dominava o expressionismo. Nessa época, Anita pintou seus quadros mais brilhantes, entre eles: A Boba (1915-16), o Japonês (1915), O Farol (1915). A produção da pintora teve inquestionável destaque na programação da Semana de Arte Moderna. Ela foi a maior representação individual na exposição com 12 telas a óleo, oito peças entre gravuras e desenhos. Dentre as telas expostas estão: O Grupo dos Cinco (1922), Autorretrato (1922), Fernanda de Castro (1922), Retrato de Mário de Andrade (1922), Baby de Almeida (1922).
A Boba – Anita Malfatti
DI CAVALCANTI
Um dos maiores pintores do país, Di Cavalcanti, apesar da influência cubista e surrealista, gostava de representar temas tipicamente brasileiros como as mulatas, as favelas, o samba e o carnaval.
Em 1919, Di Cavalcanti ilustrou o livro “Carnaval” de Manuel Bandeira. Nesse mesmo ano, mudou-se para São Paulo, onde participou com destaque da Semana de Arte Moderna de 1922. Elaborou a capa do catálogo e expôs 11 telas no hall do Teatro Municipal de São Paulo, entre elas: Pierrete (1922)
O talentoso jovem fundou, em 1932, o clube dos Artistas Modernos ao lado dos amigos Antônio Gomide, Carlos Prado e Flávio de Carvalho.
Pierrete – Di Cavalcanti
VICENTE DO REGO MONTEIRO
Nasceu em uma família de artistas. Descendia, por parte de mãe, do pintor Pedro Américo. O pernambucano Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) foi pintor, escultor, desenhista, ilustrador e artista gráfico.
Em 1911 viajou com a família para Paris, onde passou a frequentar a Academie Julién. Em Paris, manteve contato com Amedeo Modigliani, Fernand Léger, Georges Braque, Joan Miró, Albert Gleizes, Jean Metzinger e Louis Marcoussis, importantes artistas modernistas.
Em 1918, realizou sua primeira exposição individual, no Teatro Santa Isabel, no Recife, e dois anos mais tarde expôs pela primeira vez em São Paulo, onde conheceu Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Pedro Alexandrino e Victor Brecheret.
Mesmo distante, morando em Paris novamente, Rêgo Monteiro participou da Semana de Arte Moderna com oito obras, entre pinturas a óleo e aquarelas.
Deposição- Vicente do Rego Monteiro
VICTOR BRECHERET
Nascido na Itália, Victor Brecheret foi responsável pela introdução da arte moderna na escultura brasileira. Órfão de mãe aos dez anos de idade, o garoto foi criado pelo tio Enrico Nanni, que migrou para o Brasil e trouxe o sobrinho com ele.
Aos 18 anos, o escultor entrou no Liceu de Artes e Ofício. Apaixonado pela arte da escultura, logo no ano a seguir foi para Roma aprofundar as técnicas. Lá esteve durante cinco anos, até 1919, quando retornou para o Brasil e montou o seu próprio ateliê.
Amigo de Di Cavalcanti, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, Victor participou da Semana de Arte Moderna mesmo estando fisicamente distante. Na ocasião do evento, o escultor estava vivendo em Paris, mas ainda assim, fascinado com o projeto dos amigos, decidiu participar enviando vinte esculturas que foram dispostas no saguão e nos corredores do Teatro Municipal de São Paulo. Um dos seus mais famosos trabalhos foi o Monumentos às Bandeiras, situado no Parque do Ibirapuera (São Paulo).
ANTONIO GARCIA MOYA
A Semana de Arte Moderna contou com a participação de dois arquitetos; o espanhol Antonio Garcia Moya e o polonês Georg Przyrembel. Moya foi levado ao grupo pelo poeta Menotti DeI Picchia, que o descreveu como “bizarro, original, cheio de talento, sonhando e realizando coisas enormes”. Os trabalhos apresentados por Moya, nenhum deles construído, eram híbridos de influência, sem que em qualquer momento se pudesse vislumbrar algum traço da poética maquinista.
É senso comum apontado pela crítica, que a Semana de Arte Moderna teve pouca influência no desenvolvimento de nossa arquitetura. “Os arquitetos que dela participaram não tinham o mínimo conhecimento do que se fazia de moderno pelo mundo. Somente anos mais tarde, o Movimento Moderno da arquitetura no Brasil tomaria corpo. Em 1925, apareciam os primeiros artigos a respeito da nova arquitetura, desta feita com vinculações fortes com as vanguardas europeias.
GRAÇA ARANHA
Responsável pelo discurso inaugural da Semana de Arte Moderna, o autor já consagrado, especialmente pela publicação do seu romance Canaã (1902), hoje em dia praticamente desconhecido do grande público, Aranha era bastante reconhecido naquela época.
Filho de uma família abastada, o rapaz se formou em Direito, foi juiz e diplomata. O escritor também foi logo cedo eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 38.
Por causa da sua carreira no Itamaraty, Graça Aranha viveu em uma série de países como Itália, França, Holanda, Suíça e Inglaterra. Somente em 1920 regressou ao Brasil, justo a tempo de participar do movimento artístico que culminou na Semana de Arte Moderna.
MÁRIO DE ANDRADE
Um dos maiores articuladores do Modernismo, Mário de Andrade participou ativamente da Semana de Arte Moderna. Autor do livro de poemas Pauliceia Desvairada, Mario foi pioneiro e seu livro inaugurou a primeira fase do Modernismo.
Além de escrever ficção, o intelectual também foi crítico de arte em jornais e revistas. Em termos literários, a sua maior criação foi provavelmente o romance Macunaíma (1928), que chegou a ser mais tarde adaptado para o cinema. Nessa produção, vemos uma característica fundamental do autor: Mário procurava uma linguagem nacional, queria conhecer a fundo a cultura de cada região do país e valorizar a nossa terra, princípio fundamental do movimento modernista.
Não à toa, ele empreendeu uma série de viagens pelo Brasil, a investigação fazia parte do seu projeto nacionalista. Um dos maiores articuladores do Modernismo, Mário participou ativamente da Semana de Arte Moderna.
OSWALD DE ANDRADE
Oswald foi um dos agitadores que esteve à frente da organização da Semana de Arte Moderna. Junto com Mário de Andrade representou as principais lideranças no processo de implantação e definição da literatura modernista no Brasil.
Oswaldo de Andrade era irônico e irreverente teve uma vida agitada, foi militante político e idealizador dos principais manifestos modernistas. Ao lado da pintora Anita Malfatti, do escritor Mário de Andrade e de outros intelectuais organizou a Semana de Arte Moderna de 1922. Participou intensamente atuando sobre o desenrolar dos fatos, e contaminando seus contemporâneos com o seu entusiasmo. Entre os seus trabalhos, o mais famoso certamente foi o Manifesto Pau-Brasil (1924).
MANUEL BANDEIRA
Manuel Bandeira fez parte da primeira geração modernista. Assim, em 1930, publicou o livro Libertinagem, em que as características desse estilo, como o uso de versos livres e a liberdade de criação e de linguagem, estavam presentes, além da temática do cotidiano. Seus poemas mais famosos são “Os sapos” e “Vou-me embora pra Pasárgada”.
O escritor não participou diretamente da Semana de Arte Moderna de 1922. Seu poema “Os sapos”, de seu livro Carnaval (1919), foi declamado pelo poeta Ronald de Carvalho (1893-1935). No entanto, Bandeira escreveu textos para as revistas vinculadas ao movimento modernista, como: Klaxon, Revista de Antropofagia, Lanterna Verde, Terra Roxa e A Revista.
VILLA LOBOS
Heitor Villa-Lobos é um dos maiores maestros e compositores eruditos que o Brasil já teve. Filho de um músico amador ele foi desde cedo estimulado a tocar. Apesar de ter sido autodidata ao longo da vida, foi com o pai que Heitor aprendeu a dominar violão e violoncelo. Depois veio o clarinete, o saxofone e o piano. Heitor experimentou de tudo e começou a compor quando tinha apenas seis anos.
Quando se apresentou na Semana de Arte Moderna (de casaca e chinelo) o compositor foi vaiado, porque apresentou uma composição que mesclava ritmos folclóricos com música erudita. Apesar de ter sido constrangedor, essa apresentação ajudou a projetar Heitor internacionalmente. O próprio compositor achava que era mais reconhecido fora do país do que dentro dele.
Heitor Villa-Lobos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Iorque. Ele foi também o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Música.