O artigo publicado na Artnet News, “Art Market Reset: Riding the Waves of Change”, revela um panorama importante sobre a atual transformação no mercado de arte, conhecida como “Great Art Market Reset“. Esse fenômeno representa uma mudança radical nas dinâmicas de compra, venda e valorização de obras de arte, afetando tanto colecionadores quanto artistas, galerias e leilões ao redor do mundo. A seguir, explico o que significa essa “Grande Reconfiguração” do mercado de arte e como ela está impactando seus principais atores.
O que é o “Great Art Market Reset”?
O termo “Great Art Market Reset” refere-se a uma desaceleração significativa do mercado de arte global após um longo período de especulação e crescimento acelerado. Durante a pandemia, o mercado de arte viu uma explosão de interesse, com muitos investidores e colecionadores aproveitando o cenário de juros baixos para comprar obras em leilões e galerias, muitas vezes pagando valores exorbitantes por peças de artistas emergentes e já estabelecidos. No entanto, fatores como o aumento das taxas de juros, incertezas econômicas globais e a retração de grandes compradores, como os da China, estão provocando uma reavaliação do mercado.
Quais são os fatores que impulsionam essa mudança?
O reset no mercado de arte não é causado por um único fator, mas por uma convergência de elementos que atingiram o setor quase simultaneamente:
- Aumento das taxas de juros: Com as taxas de juros globais em alta, os colecionadores estão menos inclinados a gastar grandes somas em arte, especialmente quando há opções mais seguras e rentáveis no mercado financeiro.
- Desvalorização de obras adquiridas na alta do mercado: Muitos compradores que adquiriram obras durante o boom da pandemia estão agora enfrentando dificuldades em revendê-las, muitas vezes aceitando valores muito abaixo do preço de compra original.
- Incertezas globais: Conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e o conflito Israel-Gaza, também estão afastando compradores de determinadas regiões, enquanto a eleição presidencial nos EUA adiciona uma camada de instabilidade ao mercado.
- Especulação excessiva: Durante o auge do mercado, artistas emergentes, em particular, foram alvo de especulação intensa, com preços inflacionados por investidores que esperavam retornos rápidos. Agora, com a correção do mercado, muitos desses investidores estão saindo com perdas significativas.
Como os principais players estão se ajustando?
Os efeitos desse reset estão sendo sentidos de diversas maneiras. Grandes galerias, como Hauser & Wirth, reconhecem o clima atual de incerteza, mas continuam otimistas quanto à resiliência do mercado, enquanto adotam um “ritmo mais humano” nas vendas. Ao mesmo tempo, o artigo destaca que muitas galerias menores estão encontrando dificuldades, com várias fechando suas portas nos últimos dois anos.
No lado dos leilões, as vendas também caíram drasticamente, com um declínio de quase 30% nas receitas em 2024, comparado ao ano anterior. Essa retração impactou tanto as grandes casas de leilão, como a Christie’s e a Sotheby’s, quanto as menores. O mercado secundário também está vendo uma mudança, com obras sendo oferecidas sem reservas e colecionadores dispostos a vender por qualquer preço.
A nova abordagem de artistas e colecionadores
Uma consequência interessante dessa transformação é o ajuste no comportamento tanto de artistas quanto de colecionadores. Artistas como Christopher Wool, que antes dominavam o mercado com obras multimilionárias, estão optando por exibições em ambientes não comerciais, onde o foco é a experiência artística e não a venda. Esse é um exemplo de como muitos estão redefinindo suas práticas em resposta à saturação comercial da arte.
Para os colecionadores, a mudança está em serem mais seletivos e focados em adquirir arte que realmente signifique algo, em vez de comprar impulsivamente. Essa abordagem reflete um amadurecimento do mercado, onde o valor emocional e cultural das obras volta a ganhar destaque sobre o valor especulativo.
Conclusão: Um reset necessário?
O “Great Art Market Reset” pode ser visto como uma correção necessária após um período de supervalorização e especulação desmedida. Embora os desafios sejam evidentes, essa transformação também abre oportunidades para quem souber navegar essas águas incertas. Galerias estão se ajustando com colaborações, colecionadores estão mais atentos a boas oportunidades em leilões, e o foco está se deslocando da pura comercialização para a apreciação genuína da arte.
Essa reconfiguração do mercado pode trazer mais equilíbrio, permitindo que a arte recupere seu papel cultural e social, sem a pressão excessiva de preços inflacionados e compras impulsionadas pela especulação.