Se ainda hoje, em pleno século XXI, 100 anos depois da Semana de Arte Moderna, a representação feminina no mundo artístico precisa ser reivindicada em espaços e projetos, imaginem um século atrás?
Ao falarmos da Semana de Arte de 22 vários nomes vem à nossa cabeça; Di Cavalcanti, Mário e Oswald de Andrade, Villa Lobos, Vicente do Rêgo Monteiro, Manuel Bandeira, Victor Brecheret e vários outros artistas. Mas, e as artistas mulheres? Além, da Anita Malfatti, que sem dúvida é uma peça chave do Movimento Modernista, que outras mulheres compunham essa Semana que mudou o rumo das artes no Brasil?
A seguir, listamos mais três mulheres, além de Anita Malfatti, que certamente asseguraram a potência do que foi a Semana de Arte Moderna, e mesmo que nem sempre tenham o reconhecimento merecido, escreveram em letras garrafais seus nomes nas Artes Brasileiras.
Regina Graz
Com grande participação no movimento artístico da época, ainda é difícil encontrar registros sobre a história de Regina Graz que não seja atrelada ao seu papel de “colaboradora”, “irmã” ou “esposa”. Mas, Regina, além de ser considerada a responsável pelas artes têxteis no Brasil, ela é também uma das artistas mais produtivas durante a primeira e segunda fase do Modernismo Brasileiro.
É impossível não perceber o quanto estar próximo a outros artistas homens pode ofuscar a carreira de uma artista mulher. Irmã do também pintor Antônio Gomide, Regina Gomide Graz nasceu em 1897 na cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, mas se mudou para Genebra, na Suíça, por conta de um cargo diplomático do pai. Lá, conheceu o pintor suíço-americano John Graz, com quem se casou.
No início da década de 1920, Regina passou a se dedicar profissionalmente à arte, fazendo parte da sociedade intelectual da época. Foi assim que conheceu o poeta, escritor, ensaísta e dramaturgo Oswald de Andrade e que foi convidada para expor na Semana de Arte Moderna suas obras de tapeçaria, que já traziam elementos do movimento Art Déco.
No ano seguinte, em 1923, a artista realizou uma pesquisa sobre tecelagem indígena do Alto Amazonas, fato que a tornou uma das pioneiras no interesse pela tradição dos povos originários brasileiros.
Zina Aita
Igualmente pouco reconhecida pelos seus trabalhos, Zina Aita, foi pintora, desenhista e ceramista, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 com oito telas, que apresentaram sua tendência decorativa e preferência pela figura humana. As obras também deixaram evidente sua forte ligação com outro movimento artístico: o impressionismo. Nessa época realizou ilustrações para a revista Klaxon, publicação dos modernistas
Zina foi a pintora que levou o modernismo para Belo Horizonte, sua cidade natal. Filha de empresários italianos imigrantes, morou por muito tempo na Itália, foi lá, inclusive, que passou seus últimos anos de vida. Dizem que Zina foi para Minas Gerais o que Anita Malfatti foi para São Paulo: as principais faces do modernismo. Curiosamente,ou não , as duas foram, na época, muito criticadas por seus trabalhos.
Guiomar Novaes
A pianista Guiomar Novaes participou da Semana de Arte Moderna, apresentando-se no Theatro Municipal de São Paulo, onde interpretou as obras Au jardin du vieux serail, da Suíte andrinople, de E. R. Blanchet; O ginete do pierrozinho, da coletânea Carnaval das crianças, de Villa-Lobos; La Soirée dans grenade, das Estampes, de Debussy; e Minstrels, do Livro I dos Prelúdios, de Debussy. Por insistência da plateia, executou ainda L’Arlequin, de Vallon. Neste mesmo ano, casou-se com o arquiteto e compositor Octávio Pinto (1890-1950). Em 1925, voltou a apresentar-se na Europa, com grande sucesso.
Considerada uma verdadeira menina-prodígio, ela começou a tocar piano, de ouvido, aos quatro anos de idade. Aos seis, passou a ter aulas de piano com Eugenio Nogueira e, mais tarde, com o importante mestre italiano Luigi Chiaffarelli.
A talentosa e carismática menina, que inspirou Monteiro Lobato a criar a personagem Narizinho do Sítio do Pica-Pau Amarelo, já se apresentava publicamente com menos de 10 anos de idade e, antes dos 15, parte para a Europa para aprimorar os seus estudos musicais, sendo admitida por unanimidade em primeiro lugar no disputado Conservatório de Paris, que tinha como comissão julgadora Claude Debussy, Moszkowski e Fauré.
Foram 85 anos muito bem vividos e com uma sólida carreira construída no Brasil e no exterior.
Anita Malfatti
A artista é considerada uma das pintoras mais importantes do modernismo brasileiro, com obras consideradas clássicas, como “O Homem Amarelo”, “A Boba” e “A Estudante Russa”. Anita deixou um legado de dezenas de telas, e foi reconhecida internacionalmente pela sua arte.
A mostra expressionista da pintora realizada em São Paulo na Exposição de Pintura Moderna, em 1917, foi um marco para a renovação das artes plásticas no Brasil. A crítica do escritor Monteiro Lobato, sobre a arte expressionista, publicada no jornal O Estado de São Paulo, intitulada “Paranoia ou mistificação?” serviu de estopim para o Movimento Modernista no Brasil.
Nascida em São Paulo, filha de pai imigrante italiano e mãe norte-americana, Anita Catarina Malfatti teve uma infância difícil. A pintora nasceu com uma deficiência congênita no braço direito, que tentou ser corrigida em uma cirurgia, sem muito sucesso. Por isso, com a ajuda da alemã Miss Browne, governanta da família, a futura artista desenvolveu os movimentos da mão esquerda para escrever e pintar.
As telas expressionistas expostas por Anita causaram impacto para os padrões artísticos da época. Nas obras, foram incorporados procedimentos básicos da Arte Moderna, como a relação dinâmica e tensa entre a figura e o fundo da tela, a pincelada livre que valoriza os detalhes, os tons fortes, uma técnica de luz que foge do claro e escuro tradicional e apresenta uma liberdade de composição.