A Nova Figuração foi um movimento artístico brasileiro que surgiu nos anos 1960, em um contexto de efervescência cultural e intensa transformação social. Inspirada pela Pop Art americana, a Nova Figuração brasileira, por vezes chamada de “Pop Art brasileira”, buscou criar uma expressão própria, que refletisse a identidade nacional e as complexas realidades sociais e políticas do país, especialmente em um momento marcado pelo início da ditadura militar em 1964.
Os principais representantes desse movimento incluem artistas como Rubens Gerchman, Antonio Dias, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Carlos Zílio e Anna Maria Maiolino. Esses artistas, junto com integrantes do Grupo Rex, como Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Nelson Leirner, Wesley Duke Lee e José Resende, foram profundamente influenciados pelas experiências da Pop Art, mas adaptaram esses elementos para dialogar com a cultura e os problemas brasileiros.
A Nova Figuração destacou-se pela reintrodução da figuração em um cenário artístico até então dominado pelo abstracionismo. No entanto, essa retomada da figura não significava um retorno ao figurativismo tradicional, mas sim uma forma crítica e muitas vezes irônica de representar a sociedade de consumo, a cultura de massa e as questões políticas contemporâneas. Em suas obras, os artistas se apropriaram de linguagens e técnicas dos meios de comunicação de massa, como a publicidade, os quadrinhos e a fotografia, criando imagens que, apesar de parecerem neutras ou até banais, carregavam fortes críticas sociais.
A arte figurativa no Brasil dos anos 60 quase sempre foi marcada por uma crítica política implícita ou explícita. Exemplos incluem o trabalho de Gerchman, o início da carreira de Carlos Vergara e as obras de Antonio Henrique Amaral, que abordavam temas como alienação, violência e repressão política, sempre com uma “temperatura crítica” elevada, mesmo quando a aparência das obras sugeria um tom mais “cool”. Esta abordagem crítica intensificou-se em regiões fora do eixo Rio-São Paulo, como Recife, Goiânia e Cuiabá, onde artistas como João Câmara, Siron Franco e Humberto Espíndola exploraram ainda mais as tensões locais.
No Rio de Janeiro, Hélio Oiticica desempenhou um papel fundamental como uma ponte entre o Neoconcretismo e os novos artistas da Nova Figuração. A mostra Opinião 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foi um marco para o movimento, reunindo artistas brasileiros e da Escola de Paris, todos ligados às novas tendências figurativas. Esta exposição foi não apenas uma reação às tendências abstratas que dominaram a década anterior, mas também uma afirmação política e artística em um Brasil que vivia sob uma crescente repressão.
Em São Paulo, Waldemar Cordeiro, um dos líderes do Concretismo, deu um salto inovador ao fundir elementos da arte concreta com a Pop Art, criando o que chamou de “popcretos” ou “arte concreta semântica”. Embora essa combinação sugerisse uma neutralidade ideológica, Cordeiro, assim como outros artistas do movimento, estava profundamente engajado com as questões políticas e sociais da época.
A Nova Figuração também teve um papel importante em eventos artísticos como a Jovem Arte Contemporânea, em São Paulo, que aproximava a arte brasileira das novas tendências internacionais, e a Bienal da Bahia (1966), que buscava descentralizar e atualizar a produção artística fora do eixo Rio-São Paulo. No entanto, esses esforços foram abruptamente interrompidos pela censura imposta pela ditadura militar, que culminou com o fechamento da Bienal da Bahia em 1968 e o boicote internacional à Bienal de São Paulo em 1969.
Com as crescentes dificuldades para expor em museus e galerias, muitos artistas da Nova Figuração levaram sua arte às ruas, realizando eventos em praças, parques e outros espaços públicos, transformando a arte em uma forma de ação direta e resistência. Esse movimento, embora breve, deixou um impacto duradouro na arte brasileira, abrindo caminho para novas formas de expressão que continuariam a influenciar gerações futuras.