Postagens Anteriores

Arte e Mercado na época dos Grandes Mestres

História do mercado de arte – capítulo 1

Introdução

A arte e o mercado estiveram sempre interligados. Desde as primeiras civilizações, o valor das obras de arte era reconhecido não só pela sua beleza, mas também pelo prestígio e pelo poder econômico que proporcionavam aos seus criadores e proprietários. A relação entre arte e mercado, no entanto, passou por diversas transformações ao longo da história, moldando tanto a percepção que temos dos artistas quanto a própria definição de arte.

Neste capítulo, exploraremos como os artistas produziam e vendiam suas obras na época do Renascimento Italiano e na Holanda do século XVII. Essas duas regiões foram cruciais para o desenvolvimento da arte ocidental e exemplificam bem as diferentes dinâmicas de produção e comercialização de arte antes da consolidação do capitalismo.

 

La Tribuna degli Uffizi (1772-77), de Johann Zoffany. Royal Collection do Reino Unido

O Renascimento Italiano

O Renascimento, que floresceu na Itália entre os séculos XIV e XVI, marcou uma época de redescoberta das artes, ciências e da cultura clássica. Cidades como Florença, Roma e Veneza tornaram-se centros vibrantes de criação artística, onde artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael deixaram um legado duradouro.

No Renascimento, o mecenato era a principal forma de financiamento artístico. Mecenas, geralmente membros da nobreza ou ricos mercadores, patrocinavam artistas para criar obras que enalteciam sua posição social e poder. Essas obras eram encomendadas para decorar igrejas, palácios e espaços públicos, refletindo tanto a devoção religiosa quanto o prestígio dos patronos.

Michelangelo Buonarroti, um dos maiores artistas do Renascimento, deve muito de sua carreira ao mecenato. Sua obra-prima, o teto da Capela Sistina, foi encomendada pelo Papa Júlio II. Michelangelo também trabalhou para a família Medici, uma das mais poderosas e influentes de Florença.

Leonardo da Vinci, um verdadeiro polímata, também contou com o apoio de mecenas importantes, como Ludovico Sforza, Duque de Milão, e Lorenzo de’ Medici. Sua famosa pintura, “A Última Ceia”, foi criada para o refeitório de um convento em Milão, uma encomenda de Sforza.

 

The Dutch Golden Age Gave Us Artists and Dealers as We Know Them Today | Artsy

Adriaen van Ostade, Der Maier in seiner Werkstatt, 1683.

A Holanda do Século XVII

O século XVII, conhecido como a Idade de Ouro Holandesa, foi um período de grande prosperidade econômica e cultural nos Países Baixos. Diferente da Itália renascentista, a Holanda desenvolveu um mercado de arte mais diversificado e dinâmico, refletindo a crescente classe média e a economia de mercado emergente.

Na Idade de Ouro Holandesa, o poder naval e mercantil dos Países Baixos atingiu novos patamares. Esse florescimento econômico se espalhou pela sociedade com inovações financeiras, como a companhia pública, que permitiu a amplas camadas da sociedade participar dos lucros das corporações multinacionais emergentes, como a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Ao mesmo tempo, a igreja recuou da vida pública, assim como a proeminência da nobreza, em favor de uma classe emergente de burguesia mercantil. Para os artistas, isso significou uma erosão do status especial que adquiriram através de sua associação com a realeza, e um retorno à noção de artistas como meros artesãos, que se juntavam a guildas ao lado de pintores de casas.

Esses artesãos holandeses — ainda não vistos como possuidores do talento visionário e individual que agora associamos ao “artista” — produziam pinturas em grandes quantidades para a crescente classe média, que pela primeira vez podia pagar por pinturas a óleo (em oposição a gravuras). Esses pintores se dividiram em dois grupos, tomando o caminho alto ou o caminho baixo para o mercado. Os pintores do caminho baixo competiam pelo preço (encontrando técnicas, como a especialização em um determinado assunto, como paisagem ou pintura marinha, que lhes permitiam concluir as obras o mais rapidamente possível), enquanto os pintores do caminho alto atendiam à burguesia.

Rembrandt é um exemplo clássico do artista que prosperou neste ambiente. Ele pintou retratos, paisagens e cenas históricas para uma clientela variada, que incluía tanto ricos comerciantes quanto membros da classe média. Sua capacidade de captar a profundidade psicológica de seus sujeitos fez de suas obras itens altamente desejados no mercado.

Vermeer, embora menos prolífico, também se beneficiou deste mercado vibrante. Suas cenas domésticas e de interiores tranquilos eram populares entre os colecionadores privados.

 

Conclusão

A maneira como as obras de arte eram produzidas e vendidas na época do Renascimento Italiano e na Holanda do século XVII ilustra bem a diversidade das práticas de mercado antes da era capitalista. O mecenato e o mercado aberto coexistiam e influenciavam a carreira dos artistas de maneiras distintas, moldando a arte que hoje admiramos.

No próximo capítulo, exploraremos como a Revolução Industrial e a modernidade transformaram radicalmente o mercado de arte, levando ao surgimento das galerias de arte comerciais e das casas de leilões, bem como à evolução do papel do artista na sociedade.

Adicionar comentário

Thaís Alexandre Leiloeira Oficial © 2023 | Todos os Direitos Reservados

Open chat
Powered by