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Glossário da arte: Abstração informal

A Abstração Informal é um movimento artístico que ganhou relevância no Brasil nas décadas de 1950 e 1960, em um contexto de grande transformação cultural e artística. O movimento surge como uma das vertentes da arte abstrata, que no Brasil começa a se desenvolver a partir do final dos anos 1940, período em que os primeiros trabalhos abstratos começaram a ganhar visibilidade. Essa tendência foi impulsionada, em parte, pela autonomia que os artistas passaram a ter após o advento da fotografia, que possibilitou uma documentação mais ágil e precisa do mundo natural. Sem a necessidade de representar a realidade de forma mimética, os artistas se sentiram mais livres para explorar questões plásticas, como cor, forma e textura, o que levou ao afastamento das referências naturais e à imersão nas características intrínsecas dos materiais e na expressividade pessoal.

No Brasil, a arte abstrata se desdobrou em duas principais correntes: a abstração geométrica, que se baseava em princípios universais da matemática e da geometria, e a abstração informal, que valorizava a expressão subjetiva e a singularidade dos gestos do artista. Enquanto a abstração geométrica encontrou uma identidade mais coletiva, levando à formação de grupos como o Grupo Ruptura, em São Paulo, e o Grupo Frente, no Rio de Janeiro, a abstração informal caracterizou-se pela falta de agrupamentos permanentes, justamente por enfatizar o estilo único e individual de cada artista.

A Abstração Informal no Brasil foi representada por nomes como Iberê Camargo, Manabu Mabe, Tomie Ohtake, e Antônio Bandeira, entre outros. Esses artistas focavam em gestos livres, pinceladas expressivas e na exploração da materialidade da pintura, criando obras que, em vez de seguir uma estrutura predefinida, nasciam da improvisação e da emoção do momento. Ao contrário da arte figurativa, que dominava a cena artística brasileira até então, a Abstração Informal foi vista com desconfiança por críticos e pintores estabelecidos, que a acusavam de falta de brasilidade e de se afastar da realidade geográfica e social do país.

Apesar dessas críticas, a Abstração Informal se afirmou como uma importante vertente da arte moderna brasileira, desafiando as convenções e propondo uma nova forma de se pensar a arte. O movimento, no entanto, nunca contou com uma ampla representação crítica. Poucos críticos, como Sérgio Milliet e Antônio Bento, se dispuseram a defender e interpretar essas obras, enquanto a maioria do campo crítico preferia apoiar a abstração geométrica, mais alinhada com os princípios racionais e universais da época.

A singularidade da Abstração Informal, marcada pela ausência de um conjunto de princípios rígidos, permitiu que cada artista explorasse sua própria linguagem e estilo, resultando em uma produção diversificada e rica, que hoje é reconhecida como parte fundamental do patrimônio artístico brasileiro. Este movimento refletiu as angústias e as incertezas de um mundo pós-guerra, trazendo à tona a subjetividade e a expressividade como elementos centrais da criação artística.

 

Vídeo de apresentação da exposição Oito décadas de abstração informal, do MAM-sp.

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