“…Eu, pessoalmente, devo a revelação do novo e a convicção da revolta a ela e à força de seus quadros” ( Mario de Andrade)
A Exposição de Pintura Moderna- Anita Malfatfi, realizada em São Paulo, entre 12 de dezembro de 1917 e 11 de janeiro de 1918, foi um marco para a renovação das artes plásticas no Brasil e o “estopim” para a Semana de Arte Moderna, nas palavras do historiador, Mário da Silva Brito.
No salão cedido pelo Conde de Lara, na Rua Libero Badaró, n. 111, Anita Malfatti expõe 53 trabalhos, entre eles: Tropical (1917), A Estudante Russa (ca.1915), O Japonês (1915-1916), O Homem Amarelo (1915-1916), A Mulher de Cabelos Verdes (1915-1916); Paisagens: O Farol de Monhegan (1915), A Ventania (1915-1917), A Palmeira, O Barco (1915); gravuras : Boneca Japonesa, Anjos de Rubens, O Burrinho; caricaturas e desenhos: Festa no Trianon, Impréssion de Matisse, O Movimento.
O Homem Amarelo – Anita Malfatti
As telas expressionistas expostas por Anita causaram impacto para os padrões de arte da época. Nas obras, foram incorporados procedimentos básicos da Arte Moderna, como a relação dinâmica e tensa entre a figura e o fundo da tela, a pincelada livre que valoriza os detalhes, os tons fortes, uma técnica de luz que foge do claro e escuro tradicional e apresenta uma liberdade de composição.
Se os colegas e críticos da época enfatizaram o sucesso da Exposição de Pintura Moderna, de Anita Malfatti, os mesmos apontaram também a polêmica que cercou o evento, em função da crítica feita por Monteiro Lobato, em O Estado de S. Paulo, de 20 de dezembro de 1917, “A propósito da exposição de Anita Malfatti” (republicado em 1919 na coletânea Ideias de Jeca Tatu, com o título Paranóia ou Mistificação?). A crítica de Lobato girou em torno dos supostos equívocos da arte moderna; seu elitismo, hermetismo, adesão aos modismos, sua “falta de sinceridade”, a despeito do “talento vigoroso” que ele reconhece na artista.
A Estudante Russa – Anita Malfatti
As palavras de desaprovação do crítico convocou jovens poetas e escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia , em defesa de Anita Malfatti. Essa polemica deu o que falar, as réplicas se sucederam nos jornais da época defendendo a pintora e desautorizando o crítico. Nos termos de hoje, Anita “causou” e daí também vem a sua fama de “estopim” do Modernismo.Anita deixou um legado de dezenas de telas, e foi reconhecida internacionalmente pela sua arte.
Nascida em São Paulo, filha de pai imigrante italiano e mãe norte-americana, Anita Catarina Malfatti teve uma infância difícil. A pintora nasceu com uma deficiência congênita no braço direito, que tentou ser corrigida em uma cirurgia, sem muito sucesso. Por isso, com a ajuda da alemã Miss Browne, governanta da família, a futura artista desenvolveu os movimentos da mão esquerda para escrever e pintar.
Aprendeu a pintar com a mãe. No entanto, a artista estudou, em 1914, no Museu Real de Artes e Ofícios, na Alemanha, e, em 1915 e 1916, na Arts Students League of New York e na Independent School of Art, nos Estados Unidos. Sua primeira exposição individual ocorreu em 1914, em São Paulo, mas a de 1917 é a mais famosa, devido à sua importância para o modernismo brasileiro.
Considerada precursora do Modernismo, Anita Malfatti participou do Grupo dos Cinco junto com Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Menotti Del Picchia.
Em 1923 ela foi estudar em Paris, e só voltou ao Brasil em 1928 para ensinar desenho e pintura. A pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora Anita Malfatti participou do Salão Revolucionário, da Sociedade Pró-Arte Moderna, do Salão Paulista de Belas Artes e, em 1937, integrou-se à Família Artística Paulista, além de tornar-se presidente do Sindicato de Artistas Plásticos de São Paulo, em 1942. Assim, a partir da década de 1940, a pintora passou a produzir uma pintura mais centrada na cultura popular. Anita morreu em 6 de novembro de 1964, em São Paulo.
Segundo historiadores, no auge de seu amadurecimento, sua pintura atingiu a espontaneidade, a independência em relação a movimentos estéticos, e passou a privilegiar temas da cultura popular.
O Homem de Sete Cores – Anita Malfatti
(J Di P)