Nas últimas décadas, vimos o design nacional ganhar espaço em publicações e eventos do mundo inteiro, como o Salão do Móvel de Milão e seu Fuorisalone, a NYCxDesign, a Design Miami e a Maison & Objet Americas. Por aqui, foi em 2016 que, pela primeira vez, a SP-Arte – maior feira de arte da América Latina – dedicou um setor exclusivo ao mobiliário contemporâneo brasileiro. Cadeiras, bancos, luminárias e objetos autorais chamam atenção não apenas do público especializado, mas também da indústria – que vê nas criações oportunidade de renovar o repertório e atrair novos consumidores.
Caracterizado pela diversidade, é difícil encontrar um denominador comum que defina o mobiliário contemporâneo. Criadores em início de carreira abusam da criatividade para superar as dificuldades impostas pelos recursos mais escassos e limitações técnicas, uma prática muito explorada pelos irmãos Fernando e Humberto Campana na década de 1990.
Neste período, a produção dos irmãos era marcada pelo uso de itens de baixo custo do cotidiano, tais quais plástico bolha, mangueira de jardim e ralo de chuveiro, como vemos nas Cadeiras Célia, destaque do próximo leilão de design da Domus. As cadeiras foram produzidas em painéis de OSB [Oriented Strand Board], comumente chamado de aglomerado, material que surgiu nos Estados Unidos aplicado à construção de edifícios e utiliza pequenas lascas de madeira orientadas em camadas cruzadas seguindo uma determinada direção, que lhe conferem alta resistência e rigidez.
Surgida de uma necessidade prática, a introdução desses novos materiais abriu para os novos profissionais a possibilidade de investigar novos elementos que não a madeira – marca do design moderno, como vimos no artigo anterior.
Adriana Dornas, Doutora em Design pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG e curadora de design Contemporâneo no MuC – Museu da Cadeira Brasileira, propõe o título “novíssimo design brasileiro” para designar o design contemporâneo autoral da nova geração. Presente nas galerias de arte e de design além dos museus, esses objetos receberam uma valorização simbólica similar a das obras de arte, transformando-os em objetos de arte. A forte presença digital, com a disseminação dos objetos como parte de um lifestyle reproduzido de forma massiva nas redes foi um dos fatores que contribuíram para tal transformação.
A nova geração é formada por profissionais de todo o Brasil, com grande representatividade da região nordeste e do sudeste. É o caso do alagoano Rodrigo Ambrósio, que cria sobre objetos tradicionais e costumes da região como vemos na Cadeira Engenho, móvel conceitual produzido com 50kg de rapadura do Engenho São Lourenço, do sertão alagoano, ou no Banco Poxim, executado em cestaria.
Nesse novo cenário, destaca-se também a presença das designers mulheres, diferentemente das gerações anteriores, tais quais a mineira Juliana Vasconcellos. Dela, destacam-se a Cadeira Galho e a Cadeira Galho II. A procura por novos materiais em diálogo com a agenda da sustentabilidade também é um aspecto importante, conforme observamos na produção de Domingos Tótora, designer da Serra da Mantiqueira que trabalha com massa de papelão. Outro aspecto da sustentabilidade é a busca por técnicas tradicionais que tenham menos impacto no ambiente, o que levou designers a iniciarem projetos coletivos com artesãos e comunidades tradicionais. Renato Imbroisi foi um dos primeiros a exprimir em seus trabalhos a influência do artesanato de raiz. Assim como Marcelo Rosenbaum e os designers dos coletivos Fetiche e Nada Se Leva com o projeto A Gente Transforma, que desenvolveram produtos contemporâneos com indígenas da comunidade Várzea Queimada, no Piauí, e da tribo Yawanawá, no Acre. Os próprios irmãos Campana aderiram à prática e produziram a coleção Cangaço com o mestre artesão Espedito Seleiro.
Refletindo a miscigenação e a diversidade cultural do país, o design contemporâneo brasileiro deve ser celebrado por sua multiplicidade.
Para saber mais: https://www.youtube.com/watchv=4RBRZnsqxzw&ab_channel=ModernosEternosBH