O projeto modernista surge no país como uma proposta de substituição de um estilo passadista, importado e acadêmico por um que exprimisse a ideia de identidade nacional que estava sendo forjada durante a primeira metade do século XX. Neste momento, ocorriam grandes transformações em nosso país, como a expansão da população nos centros urbanos, a multiplicação das atividades econômicas e a diversificação do tecido social. Rapidamente, intelectuais e artistas engajaram-se no diálogo internacional sobre o modernismo e deram origem à vertente nacional do movimento, que teve importante impacto na cena cultural do país durante quase todo o século.
A partir da década de 1930, o design produzido no Brasil progressivamente passou a se afastar das escolas europeias, especialmente da art déco francesa e da Bauhaus, importantes influências para profissionais como John Graz, Gregori Warchavchik e Lasar Segall. A fim de imprimir características especificamente brasileiras à linguagem modernista e preocupados com a criação de um mobiliário adequado ao clima tropical, os pioneiros do design moderno brasileiro desenvolveram um estilo marcado por três características fundamentais: o uso das madeiras locais, o revestimento de palhinha e o pé palito.
O emprego da madeira local no mobiliário moderno é o resultado do encontro da tradicional mão de obra portuguesa na marcenaria com a matéria-prima brasileira. Desde a época colonial, marceneiros portugueses organizados em corporações de ofício foram os responsáveis pela tradução do mobiliário europeu no país através da incorporação de madeiras como o jacarandá, a caviúna e o vinhático na produção de objetos como oratórios, camas, cadeiras, mesas e baús. Ao ser empregada no mobiliário moderno, a madeira, devido às suas potencialidades plásticas e imensa oferta, foi o elemento que permitiu a investigação das formas necessária às experimentações estéticas. Como a industrialização no Brasil ainda era incipiente, a possibilidade da produção artesanal sem o prejuízo da qualidade dos objetos oferecida pela madeira foi essencial, o que não seria possível com os materiais que estavam sendo empregados no exterior, como o metal cromado, o aço e o vidro.
A palhinha, uma trama natural de origem indiana, é um acabamento impregnado de história e memória. Popularizou-se em Viena, na Áustria, quando passou a ser empregada em peças clássicas do design como a poltrona Luís XV. No Brasil, devido à ventilação de sua trama vazada considerada ideal para o clima local, tornou-se extremamente popular entre designers a partir da década de 1940. Versátil, o material é muito utilizado até hoje, inclusive no revestimento de portas de armários e estantes, biombos, além de assentos e encostos de cadeiras e poltronas.
O terceiro elemento analisado é o pé palito: suporte alongado, fino, em formato cônico e oblíquo que transmite ao móvel e ao ambiente certo aspecto futurista. Popularizado no pós-guerra, este elemento do mobiliário destacou-se por atribuir leveza às construções duras e austeras do modernismo e por reduzir a quantidade de material necessária à produção, já que, por causa da inclinação das bases, o peso do móvel era transferido para o piso de forma mais eficiente. No Brasil, o pé palito tornou-se mais presente a partir da década de 1960 com os trabalhos de Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues e Zanine Caldas. Atualmente, o pé palito é aplicado a móveis de diferentes estilos,o que o torna um elemento versátil e atemporal.
Foi Joaquim Tenreiro, designer e artista português radicado no Brasil, quem de forma mais veemente afirmou a necessidade do emprego de materiais construtivos adequados ao contexto nacional e influenciou grande parte da produção posterior, unindo a demanda por funcionalidade ao patrimônio cultural brasileiro que resultou no cânone do mobiliário moderno do país. Devido a seu caráter semi artesanal e personalizado, o trabalho de Tenreiro manteve-se restrito aos consumidores de maior poder aquisitivo. A popularização do mobiliário moderno brasileiro só foi alcançada ao final da década de 1950, quando criadores como Percival Lafer, Michel Arnoult e Geraldo de Barros conseguiram escalar a produção através da mecanização. A disponibilidade dos objetos e sua marcante presença na fundação da nova capital, Brasília, foram essenciais à consolidação da linguagem modernista nacional, marcando o seu apogeu.