Um mictório; um frasco com excrementos; porcos empalhados e tatuados; um tiro à queima roupa na abertura de uma exposição; o rosto de um cachorro costurado no próprio rosto; uma xícara e pires de pele natural com muitos pelos…
Você pode achar que essa é uma descrição de um cenário de um filme de terror. Mas, esses são exemplos de obras de arte que em diferentes momentos e lugares sacudiram o mundo das artes. Fazendo todo mundo se perguntar, mas afinal isso é arte?
Listamos aqui 10 obras de arte que causaram estranhamento, indignação, surpresa e muitas indagações no público e também na crítica.
1. Marcel Duchamp – A Fonte by R. Mutt – 1917
Uma das precursoras das obras de arte considerada polêmica é sem dúvida, “A Fonte” de Marcel Duchamp, feita sob seu pseudônimo de R. Mutt.
Duchamp inaugurou o conceito de “readymade”, objetos já fabricados, presentes no nosso cotidiano, sem nenhum valor estético, que neste contexto, são expostos em ambientes especializados para apreciação artística.
Com “A Fonte” Duchamp levantou questões como o contexto em que as obras de arte estão inseridas e em torno da estética, que direciona para a grande pergunta do que é ou não é arte, e sobre o papel das instituições de arte em torno da validação das mesmas.
“A Fonte” estimulou essas questões fundamentais que ajudaram a direcionar a arte no século XX, mas que ecoam na produção artística até hoje: “qual o papel das instituições na avaliação das obras de arte?”, e principalmente, “o que torna algo uma obra de arte?”
São mais de 100 anos de “A Fonte” e as indagações estimuladas por Duchamp seguem influenciando artistas.
2. Piero Manzoni – “Coco de artista” – 1961
Produzida e embalada em maio de 1961. Acredita-se que cada uma das latas numeradas (são 90 no total) contenha 30 gramas de fezes do próprio Manzoni, mas segundo seu colega, o artista Agostino Bonalumi, os frascos possuem apenas gesso.
O artista italiano afirmou que seu projeto baseia-se na crença de que os compradores “só gostam de m*rda”. As inscrições em italiano, inglês, francês e alemão dizem: “M*rda de artista. Conteúdo: 30 gramas. Conservada naturalmente. ”
Inicialmente o preço era o mesmo de uma barra de ouro com a mesma massa: 37 dólares. Mas, em 23 de maio de 2017, uma das latas foi vendida por 124 mil euros num leilão da Sotheby’s
3. Wim Delvoye – Porcos Tatuados – 2010
Intitulada ‘Porcos Tatuados’, a exposição do “artista” belga Wim Delvoye, provocou polêmica no Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Nice, na França. Sete porcos empalhados e tatuados causaram a indignação de entidades de defesa dos animais e também em parte do público. Será que vale ostentar o sacrifício de animais em nome da arte?
4. Chris Bürden – Um tiro em si mesmo –1971
Um tiro em si mesmo? Exatamente, e não é trocadilho nem nenhuma metáfora. O artista Chris Bürden em sua obra Shoot (tiro) quis que ficasse registrado na parede da exposição a marca do tiro e o sangue da vítima. E então ele o fez; chamou uma pessoa para que lhe desse um tiro na abertura da exposição. Calma! Sim, ele sobreviveu.
5. Rodrigo Braga – Fantasia da Compensação – 2008
O artista Rodrigo Braga ficou conhecido pela sua obra “Fantasia da Compensação”, que consistia em nada menos que costurar um rosto de cachorro em seu próprio rosto. As ONGs e instituições de proteção animal intervieram e Rodrigo afirmou com ajuda do Abrigo para animais:
– O cachorro já estava morto e ninguém foi procurá-lo durante seu estado terminal ou depois de sua morte. Há os que afirmam que a transformação foi física e outros que dizem que foi apenas edição digital.
6. Meret Oppenheim , “Jogo de café da manhã em pele”, 1936
Você tomaria café numa xícara de pele natural com pelos? Que tipo de reação a artista suíça Mert Oppenheim queria causar ao cobrir uma xícara, um pires e uma colher com pele natural? A obra garantiu-lhe fama mundial, a composição virou um clássico do surrealismo, pois combina o que é incompatível e desafia o senso comum.
Atualmente, a obra está no Museu de Arte Moderna de Nova York.
7. “Presente”, Man Ray, 1921
Que presente de grego hein?
O artista Man Ray planejou usá-lo como um presente para o poeta Philippe Soupault, dono de uma galeria em Paris, mas mudou de opinião e incluiu a obra em sua exposição. Ele devia ter muito apreço por esse amigo, nossa!
O “Presente” tornou-se muito popular, inspirando a produção de várias cópias (como a da foto). Man Ray foi um fotógrafo, diretor de cinema, escultor e pintor norte-americano do século XX. É considerado um importante representante do surrealismo e do dadaísmo nos Estados Unidos.
8. Piotr Pavlenski – Fixação – 2013
Tem artista que dá o próprio sangue em sacrifício pela sua obra.
O artista russo Piotr Pavlenski ficou conhecido pela sua obra “Fixação”. Na sua performance, acreditem, ele se sentou nos paralelepípedos da Praça Vermelha de Moscou – Rússia e pregou seus testículos com um martelo no chão da praça. Au! Não precisava tanto, não é gente?
Pavlenski ficou imóvel por mais de uma hora olhando para baixo numa ação que ele próprio classificou como “metáfora da apatia, indiferença política e fatalismo da sociedade russa atual”.
“Coincidentemente” este foi o dia da Polícia Russa. No dia da ação faziam 10 graus. Além de bizarro deve ter doído pacas. Não precisava tanto Pavlenski!
9. Marina Abramovic – DO IT at e-flux – 1996
Marina Abramovic é um nome que causa alvoroço na contemporaneidade no que se refere à arte de performance, e ela não fez por menos em DO IT. Este é um projeto do crítico e curador Hans Ulrich Obrist, no qual os artistas cadastrados dão aos internautas um manual para realizar uma obra de arte. A seguir seguem as instruções que a performer Marina Abramovic dá em sua sessão no DO IT para realização de um trabalho artístico:
Culinária Espiritual (1996)
Misture Leite fresco do peito. Com Leite fresco do esperma. E beba nas noites de terremoto. Sobre seus joelhos, limpe o chão. Com sua respiração. Inale a sujeira. Lave seus lençóis da cama com suco de limão. Cubra seu travesseiro com folhas de sálvia. Com uma faca afiada. Corte profundamente o dedo mediano da mão esquerda. Coma a dor. Olhando a parede. Coma nove pimentas vermelhas. Leve 13 folhas de repolho verde inteiras. Com 13.000 gramas de ciúme. Vaporize por muito tempo em um pote fundo de metal. Até que toda água evapore. Coma antes que te ataque. Urina fresca da manhã. Borrife sobre os pesadelos.
Gente, por questões de segurança e higiene, melhor não tentar fazer isso em casa, tá bem?
10. Guillermo Vargas Habacuc – A morte do cão – 2007
Dá série “acho não precisava disso” temos “A Morte do Cão”, e sim é real, não é nenhuma alegoria. Infelizmente, esse episódio aconteceu de fato. Em 2007, o artista costa-riquenho Guillermo Vargas Habacuc, expôs em uma galeria de seu país, um cachorro amarrado até que morresse lentamente de fome e sede. Uma agonia que durou dias e foi contemplada passivamente pelo público. Como se não bastasse a “obra” foi repetida em 2008 e gerou protestos mundialmente.
Algumas obras de arte colocam em cheque a nossa passividade enquanto público e muitas vezes nos torna tolerantes ao que em outros ambientes seria intolerável.
Diante de obras de arte que ultrapassam alguns limites e nos provocam em questões tão profundas e inquietantes, uma pergunta sempre vai pairar sob nossas cabeças; afinal, isso é arte? Vale a reflexão!
J.Di P.